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RPG. Diversão ou Rota de Escape? Ato - 2

Atualizado: 21 de mar. de 2023

Eu presenciei por dezenas de vezes em dezenas de mesas, jogadores que sentem um tipo de abstinência de RPG. Eles precisam de sessões mais frequentes e mais longas.

Mesas que deveriam acontecer mensalmente, acabam por mudarem seus turnos para quinzenais e, dependendo do andamento de disponibilidade de outros jogadores, acabam virando mesas semanais e pior, com encaixes sempre que dá.

Deixa eu elaborar um pouco mais sobre esse assunto da seguinte forma:

Caso n° 1: Será de uma jovem que trabalha de segunda a sábado, sendo no sábado até 12h; casada e mãe de 1 filho pequeno (vamos estimar aí seus 6 anos ainda). Seu esposo também trabalha de segunda a sexta, mas em dias intercalados, dia sim e dia não. Vamos começar com essa jovem que eu vou chamar de Eladryn. (Sim, nome topado, eu sei, hehehe. Quem gostou já deixa um “amei o nome” nos comentários depois, mas vamos voltar ao assunto).


Eladryn tem uma rotina. Bem, ela precisa ter, para que possa organizar sua vida de forma funcional. Ela precisa gerir seu trabalho, casamento, filho, contas e momentos de diversão também. Na vida dela, seu esposo a ajuda num patamar de 50%, juntamente com ela, ou seja, os dois fazem suas partes e tudo está dando certo.

O esposo dela não curte RPG, mas ele não é contra. Ele a acompanha nas sessões, quando ela vai, mas, quando são essas sessões?

Ela participa de uma mesa mensal, um encontro que acontece todo segundo domingo de cada mês religiosamente. Ela chega por volta das 15h, já que pela manhã ela ajuda com as tarefas da casa para recomeçar a semana; dá uma atenção dividida para seu filho junto com seu esposo, ajuda a preparar o almoço, comem, descansam e depois, partem para a casa de um amigo ou local de encontro e ficam até umas 21h em seus jogos. Normalmente eles dão um intervalo de uns 15 a 20 minutos para um lanche ou um banheiro e depois mais um ou dois intervalos até o final da sessão.


Nos outros fins de semana, ela divide entre se divertir sozinha, com seu esposo e filho e um encontro com a família maior. E essa é a vida de Eladryn. Não é uma vida fácil, mas ela e seu esposo conseguem manter uma vida intensa e amável. E só para constar... ela não é uma elfa, tá? (sei lá, vai que um de vocês acham que era...)

Caso n°2: Agora, vamos ao caso de um jovem chamado Draxtar, solteiro, estudante e filho único. Este jovem está terminando o colegial e é muito influente em seu meio de amigos.

Ele ama RPG com todas as suas forças. Ele vive e respira RPG, apesar de não ter muitas condições financeiras de conseguir comprar todos os livros, ele sempre consegue comprar pelo menos os manuais básicos e o que for possível, e sempre tem aquele impresso na xérox perto do colégio.

Durante os dias de semana, nos intervalos de cada aula, Draxtar sempre conversa com os colegas de sala e de outras salas marcando aventuras para o fim de semana e até mesmo para os dias de semana à tarde e noite depois do colégio. Ele divide seu tempo entre as aulas, conversar sobre RPG, postar nas suas redes sociais sobre as campanhas que está jogando e narrando, debater sobre regras, sobre episódios de seriados e tudo o mais ligado ao mundo do RPG.

Em sua casa, Draxtar mantém um relacionamento evasivo. Seu pai faleceu devido à covid há 2 anos e isso deixou uma ferida que ainda está bem aberta, apesar dele não abrir o assunto para conversa; nem mesmo com sua mãe.

Ele mantém o amor por ela como sempre, nem mais e nem menos, mas ela sente muito a falta dele, pois, esperava mais apoio, já que agora tem apenas ele em sua vida.

Seu pai ensinou-lhe o RPG. Ensinou, conduziu e lhe deixou essa herança maravilhosa que lhe expandiu os horizontes do incrível para si.

Nas matérias de cálculo, ele não é o mais forte, mas nas disciplinas teóricas, ele desenvolve muito bem se comparado com a média de classes de sua idade.

Ele não é um aluno exemplar em questão de notas, mas não sofre no fim do ano com recuperação.


Durante a semana, Draxtar larga do colégio e vai em casa almoçar rapidamente, já que, às 15h, ele tem mesa marcada com alguns amigos até às 20h nas segundas-feiras. Dias de terça feira, ele joga online das 15h até às 22h, onde é mestre de uma mesa que faz streaming. Nas quarta-feira, ele joga RPG card, com direito a batalhas de mestres de monstros, compra e venda de cards e mostra de álbuns de cards especiais. Nas quintas, ele encaixa sempre algum jogo, seja RPG de mesa, online ou vai jogar na mesa de alguém. Ele sempre procura um local para poder jogar RPG de alguma forma. Nas sextas, ele tem grupo de discussão num grêmio perto de sua casa onde eles conversam sobre regras, classes, magias, melhoramentos de matérias e mágicos. Dias de sábado e domingo, ele joga em 3 mesas diferentes, sendo Tormenta, Lobisomem e 3D&T.

Sua mãe o vê menos agora que quando seu esposo estava vivo. Ela o chamou para conversar diversas vezes, mas ele sempre, sempre diz a mesma coisa: “Eu estou bem, mãe, relaxa!”.

Sua mãe nunca foi chamada no colégio por causa de mau comportamento de seu filho ou de notas baixas, então, ela acredita que, de alguma forma o RPG não deve estar atrapalhando a vida dele. Mas ela sente muito a ausência dele em casa e até mesmo ajudando em tarefas de casa como antigamente.

Agora, vamos voltar ao foco da conversa.

Será que ficou claro?

Um desses personagens acima, tem prioridades na vida, responsabilidades, enquanto o outro personagem não se preocupa sequer com sua família dentro de casa.

Em um dos exemplos, o RPG é uma fuga de uma realidade que está machucando muito, enquanto no outro, o RPG é uma forma de diversão esporádica que traz um alívio do estresse da semana.

Alguns de nós estamos fortemente inseridos em um desses dois casos.

Eu mesmo: Hoje em dia estou como o primeiro exemplo. Com tarefas, responsabilidades e prioridades acima do RPG, mas o jogo está inserido na minha vida de alguma forma, se não quinzenalmente, mensalmente.

Mas para quem está seguindo a leitura desde o primeiro ato que escrevi, sabe que eu estava profundamente atolado no segundo exemplo há poucos anos atrás.

Quando estamos vivendo o segundo exemplo, dificilmente entendemos o quanto precisamos de ajuda, o quanto estamos presos numa armadilha propensa a nos manter em um ciclo vicioso que, ao invés de trazer alívio, acaba sendo uma via de escape que age como um entorpecente, como uma droga de verdade, com poder de criar um vício.

Antigamente, meu falecido avô, que foi quem me criou como um pai, dizia com extrema sabedoria: “Tudo em excesso, faz mal!”

Até hoje, vocês acreditam que eu procuro algo que pode ser excesso e não fazer mal?

Faça o teste. Procure alguma atividade ou ação que em excesso te traga algum benefício e falhe miseravelmente. Hehehe.

Semana que vem, eu trarei o ato 3, falando sobre Fuga da Realidade.


Até semana que vem.


REFERÊNCIAS:








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