O fechamento da Biblioteca Élfica

No dia 26 de fevereiro, no twitter oficial da biblioteca élfica havia uma postagem que deixou muitos RPGistas tristes. Isso mesmo senhores. a biblioteca élfica encerou suas atividades. Quem tentou acessar o site após esse dia, simplesmente não conseguiu.

A biblioteca élfica era o maior acervo de PDFs de livros de RPG do Brasil. Nem todos devo dizer eram legalizados para distribuição (na verdade a maioria).

Muitas pessoas comentaram sua tristeza com o fim da página, o que levou a uma grande discussão sobre a pirataria e dilemas sobre o certo e o errado.

Uma discussão sobre pirataria

Eu, particularmente tenho opiniões conflitantes sobre material pirata e vou ecplicar um pouco da minha história para tentar dar uma opinião.

Conheci o RPG nos anos 2 mil (e um quebrado) e queria consumir tudo que era material de RPG. (Hoje ainda quero). Mas na época, ao menos para mim, acesso a internet era díficil e o mercado de RPG não estava em sua era de ouro. Mas ainda havia bastante material. Como as Revistas da Dragão Brasil e a Dragão Slayer, e pequenas seções nas livrarias, onde muitas vezes eu ia e tentava decorar todo material que lia para aprender mais. Inclusive o RPG me ajudou muito com os estudos na época. Tudo era RPG pra mim, ou poderia ser usado para o RPG.

Pense um pouco. Jogos são uma mistura de história, física, geometria, biológicas, artes... Por aí vai.

Porém houve uma época em que eu simplesmente não conseguia encontrar material de RPG. As revistas saíram de circulação e nem sempre eu conseguia sair para ir as livrarias. Claro eu inventava os meus sistemas e cenários, faço isso até hoje, assim como muitos mestres e jogadores. Mas sabe como é, ter aquele livro do draconomicon de DnD 3.5 nas mãos é uma emoção que nem dá para descrever.

Na época eu não tinha computador então tinha que me contentar com o que tinha anotado, era minha "pirataria" pessoal. Entrar numa livraria e memorizar o máximo que puder para anotar assim que sair. Depois ir em outra livraria (nem sempre próxima) para continuar o processo. Eu praticamente copiei livros inteiros de RPG, mas eu não ganhava dinheiro com isso. Eu usava nas minhas campanhas.

Se bem que alugar meu caderno e notas de RPG teria sido uma boa ideia...

Posteriormente consegui um computador, também entrei em uma escola técnica de jogos. Meu amigo, aí o bagulho ficou Loko. Era livro de RPG saindo pelo ladrão. E não só. A maioria dos meus livros de estudos eram PDFs. Você imagina a mente do garoto quando eu descobri o que era um PDF? Até dos meus próprios RPGs eu fazia PDF e divulgava pela escola o material.

Assumo minha parcela de culpa aqui. Promovi a pirataria e espero ter compensado as editoras e autores quando incentivava outras pessoas a jogarem RPG.

Se serve como pedidos de desculpas, eu hoje tento comprar todo material que já adquiri ilegalmente. Mas acredito que vou demorar um pouco para comprar todos (tenho muitos material RPGistico não comprado).

Inclusive gostaria de agradecer a todas as editoras que disponibilizam o PDFs gratuitos eu me sinto muito melhor quando isso acontece, e termino fazendo questão de comprar o livro.

Acredito que hoje um grande fator de mudança foram os financiamentos coletivos. Você participa do projeto, você faz ele acontecer diretamente. Mais uma vez uso a Dragão Brasil de exemplo: eu pago pela minha dragão Brasil e ainda incentivo outros a fazerem o mesmo.

Aí de repente temos a dragão Brasil disponível para download. Isso não vai acabar com a revista, mas poderia ser uma matéria a mais, considerando as pessoas que vão ter a revista sem ajudar no financiamento. Sabe?

Não quero pagar de moralista. É apenas um sentimento que tenho, pois me sinto parte do projeto. E isso acontece com muitos outros RPGs que ajudei a financiar. Acredito que o sentimento do autor é muito parecido com meu nessas horas.

Hoje, graças aos deuses que lançam bons dados para o RPG, existe uma porrada de material gratuito disponível. Gratuito de verdade e muito bons por sinal. O Calabouço da Thexuga é uma revista de RPG que é maravilhosa e é GRATUITA, assim como 3d&t e muitos outros materiais, como Curtos e fantásticos alem de uma porrada de RPG feito por autores independentes, como o sistema 2d6 do Tio Nitro e A versão fastplay de Crônicas RPG.

Então, diferente de quando comecei a jogar. Tem muito material de RPG, gratuito ou barato e o acesso é muito mais fácil. Claro que sempre vai ter o livro de DnD por quase 100 dinheiros, e lembrando que você precisa de 3 livros pra ser feliz, o que "estimula" a pirataria. Vale salientar que a qualidade gráfica do material é de um nível absurdo de lindo

Eu não vou nem falar da delícia daquele livro de VAMPIRE: the masquerade, que está maravilhoso (disponível apenas em inglês) e foge do meu orçamento, mas eu quero.

Falando em estimular a pirataria, cadê o DnD 5E em português? A treta dessa tradução foi épica, no mínimo e atrasou todo o lançamento. Enfim, nem todos do meu grupo falam inglês então claramente rolou um DnD 5e português pirata pra gente jogar.

Como pedido de desculpas, temos os 4 livros de DnD 4e, oficiais, sim quatro (temos dois livros de monstros).

Para mim a pirataria de certa forma me ajudou a manter o hobby vivo. Então não posso condená-la, mas sei que não é certo. Se não fosse os meus PDF de RPG e de tantas outras apostilas e livros didáticos e paradidáticos, talvez eu tivesse feito outras coisas da minha vida. Isso envolve insistir no futebol (sou péssimo) e ter virado o novo Kaká, ou talvez ter saído com os amiguinhos para matar aula e fazer coisas que adolescente quer fazer, mas não devia.

Então, finalizando. Sendo errado ou não, os próprios administradores não sofreram pressão de editora ou autores. Os autores estavam ocupados produzindo um material maravilhoso, tanto é que tivemos maravilhosos lançamentos esse ano. E o que precisamos fazer é isso, produzir material de qualidade e incentivar os autores de RPG a produzirem material de RPG de qualidade.

Se é certo ou errado... Bem a reflexão deve ser feita por cada um de nós. Não vou ficar aqui apontando para ladinos e paladinos. Cabe a cada um jogar com o seu personagem. Talvez realmente não exista jeito errado de jogar, apenas se divirta e não atrapalhem a diversão do amiguinho. RPG é um jogo para se jogar em grupo então vamos juntos fazer mais RPGs.

Mas que a biblioteca fará falta para muitos, é uma verdade.